04 agosto, 2008

O Conflito Israelo-Palestiniano - A Guerra da Independência

Com a declaração de independência a 14 de Maio e com a saída das tropas britânicas, o cenário estava montado para aquilo que todos anteviam: o combate pelo domínio do território. Como tal, os países árabes vizinhos tentariam apoderar-se da maior parcela de território que conseguiriam face ao encurralado inimigo israelita. Com um período transicional extremamente curto e com uma acção mais ou menos coordenada entre as facções apadrinhadas pela Liga Árabe, as probabilidades afiguravam-se desfavoráveis aos sionistas. Não obstante, a história ditaria outro resultado.

À meia-noite do dia 15 de Maio, 10.000 tropas egípcias atravessavam a fronteira entre o Sinai e o Negev, bloqueado a frente Sul contra qualquer ocupação israelita. De Norte, tropas Sírias e Libanesas atravessavam as suas fronteiras em direcção aos grandes centros populacionais, enquanto que as tropas hachemitas provenientes da Jordânia, a Legião Árabe, ultrapassavam em muito os ditames saídos do acordo anterior. Em primeiro, os colonatos isolados e com pouca população sofreram os primeiros assaltos dos inimigos árabes, que apesar de tudo respeitavam mais a interesses próprios para efeitos de despojos de guerra do que propriamente a um plano coordenado de ocupação e eliminação de um inimigo comum. Assim, os movimentos ofensivos de cada elemento encontravam-se algo desajustados face aos principais centros nevrálgicos da sociedade israelita, permitindo um rápido reagrupamento e organização de uma contra-ofensiva. Em direcção a Tel Aviv, capital do novo Estado de Israel, e já chegados a Jerusalém, os primeiros ânimos árabes adivinhavam uma vitória rápida e decisiva.

A 20 de Maio, contudo, um novo elemento seria adicionado ao jogo bélico, com o envio do Conde Folke Bernadotte por parte das Nações Unidas com o objectivo de negociar com as tropas no terreno e organizar uma resposta alternativa à situação. Com o êxodo de mais de 100.000 palestinianos por esta data, desde o princípio do ano, e com a destruição de inúmeros colonatos e aldeias fronteiriças, assistiam-se graves baixos quer do lado palestiniano quer do lado israelita. Ademais, o Conselho de Segurança apelava a um imediato cessar-fogo, o que não foi obviamente acordado. Por parte da comunidade internacional, é apenas de realçar o embargo à venda de armamento que o Reino Unido impusera às partes beligerantes, o que, digamos, não constituiu um grave entrave à continuação da onda de violência, à medida que as tropas árabes avançavam no terreno.

Passada uma semana, as tropas Israelitas começam a ripostar. Nas cidades de Belém e Jerusalém, o domínio árabe durou poucos dias, não se consolidando a presença dessas tropas nas áreas ocupadas. Com a concentração de tropas Israelitas em pontos-chave e a mobilização da população judia, dá-se a expansão israelita após esta primeira onda de amortecimento que tomou os primeiros kilómetros fronteiriços. As tropas sírias e libanesas começavam a debandar em massa no dia 24 de Maio, enquanto que as tropas egípcias imitavam-nas a Sul, recuando para o Negev e depois para o Sinai. A 10 de Junho era, assim, assinada a primeira trégua.

Esta primeira tentativa de estabelecer um status quo era bastante precária. Os limites fronteiriços até então conquistados satisfaziam apenas duas figuras: o rei Abdullah, cujas possessões a Oeste do rio Jordão eram maiores que aquelas acordadas com os Israelitas; e o Reino Unido, que de certo modo reconhecia como naturais as novas fronteiras entre a comunidade judaica recém chegada e as comunidades árabes palestinianas vizinhas. Não obstante, para Tel Aviv, Cairo, Damasco e Beirute, mais guerra era sinónimo de potenciais ganhos, uma vez medidas as capacidades militares recíprocas. E foi aqui que o embargo britânico começou a surtir efeito.

Demonstrada a falta de coordenação entre as tropas envolvidas, a Liga Árabe não mais representou o chapéu sob o qual as tropas Egípcias, Sírias, Libanesas, Jordanas e algumas Iraquianas combatiam. Assim, a falta de recursos e sua precária preparação militar, apenas razoável do lado Egípcio, permitiu a Israel tomar a dianteira na primeira guerra de números. Lembrando o acordo atingido entre as duas superpotências EUA e URSS em relação à questão sionista, Israel vai conseguir ao longo de Junho o abastecimento de armamento pesado por parte de países da Europa de Leste sob influência de Moscovo, elevando os recursos ténico-militares e humanos a valores dificilmente alcançados pelos países vizinhos. Logo, quando deflagrou uma segunda onda de violência, a 8 de Julho.

Com uma imigração judaica cada vez maior, tornava-se patente a superioridade do esforço Israelita em vencer esta guerra. Com efeito, esta segunda fase da guerra caracterizou-se pelo avanço das tropas sionistas em todas as direcções, completado pelo bombardeamento aéreo a todas as capitais inimigas. A máquina de guerra de Tel Aviv estava aprimorada e preparada para prolongar os conflitos indefinidamente. Estes viriam a estender-se até Outubro. Com negociações moderadas pela ONU e com as fronteiras que se alargavam no Negev até à Cisjordânia, e a Norte com os limites do Acordo de Partição, a humilhação árabe fora total. Dos 850.000 palestinianos residentes na Palestina judaica, apenas 160.000 viriam a permanecer depois da Guerra da Independência. Avançado com planos de urbanização e colonização interna, o Estado de Israel apoderara-se dos territórios e possessões palestinianas e reconvertera-as para produção e sustento interno, alterando uma paisagem de escombros numa de reconstrução pós-conflito, com feridas ainda em aberto. Os conflitos agora restringiam-se a meros ataques ocasionais de milícias árabes contra alvos civis Israelitas, num desanuviamento que se prolongaria até 1954.

Terminava a guerra.

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