04 agosto, 2008

O Conflito Israelo-Palestiniano - A Guerra dos Seis Dias

A Guerra dos Seis Dias foi a mais consistente resposta árabe à fundação do Estado de Israel. Nas vésperas da celebração do seu vigésimo aniversário, Israel encontra-se à data numa posição bastante consolidada face aos seus vizinhos árabes que lutavam ainda para construir um Estado centralizado forte e que não caísse nas mãos de milícias locais que procuravam avivar a doutrina islâmica activista por contestação ao movimento daquelas que obtiveram a independência dos poderes europeus. Com efeito, no ano de 1967, um conjunto de ofensivas diplomáticas lideradas pela Síria e pelo Egipto procuram junto de outras nações árabes o apoio necessário à batalha decisiva contra Israel.

De facto, a resposta Israelita foi um típico caso de ataque pré-emptivo. Face ao crescimento galopante das tensões na região, com o Presidente Gamal Nasser no Egipto e o Rei Hussein da Jordânia a celebrarem vários acordos militares, e ambos com negócios armamentistas com a URSS com vista à construção de um arsenal de guerra moderno e multifacetado, semelhante àquele possuído por Jerusalém, a capital Israelita depois da tomada da cidade em 1950, a Mossad era então bombardeada de relatórios dos seus agentes que avisavam para uma eminente ofensiva árabe proveniente da Jordânia, Síria e Sinai. Previamente humilhados quer na Guerra da Independência quer durante a Crise do Suez, o mundo árabe, já sem a estreita coordenação da Liga Árabe, pretendia fazer finalmente jus àquela que considerava ser uma ocupação indesejada por um vizinho maldito.

Com a escalada armamentista na região do Próximo Oriente, a Israel não lhe é dada alternativa que não seja um ataque pré-emptivo. A primeira frente de batalha dá-se na cidade de Charm-el-Cheikh, a Leste do Sinai, mais concretamente no Golfo de Akaba, onde as tropas das Nações Unidas são incapazes de suster o primeiro acto de violência. Essa cidade, sob regime internacional desde a Crise do Suez de 1956, seria foco das primeiras tensões da responsabilidade do Presidente Egípcio Gamal Nasser, um fervoroso pan-arabista nacionalista, defensor do Não-Alinhamento e da proeminência do poderio do Egipto no seio da Liga Árabe.

No dia 18 de Maio, Nasser emite um pedido a U Thant, então Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, para retirar imediatamente todos os capacetes azuis do Golfo de Akaba, enquanto procedia simultaneamente à interdição incondicional de todo o tráfego Israelita, pretendendo-o isolar de uma fronteira avançada face à infantaria egípcia. Após um ataque Israelita à aviação Síria, quem estava aliada por tratado ao Egipto, era óbvio que o inflamar de tensões resultariam numa guerra em breve, tradicionalmente na época do Verão. Com o abastecimento militar da URSS ao Egipto, motivos não faltavam para que Jerusalém observasse com a maior temeridade os avanços inimigos.

É assim que, no dia 5 de Junho de 1967, a Força Aérea Israelita destrói a sua homóloga Egípcia juntamente com os aeroportos e instalações anexas, incapacitando totalmente o braço aéreo do vizinho a Sudoeste. Ademais, trata ainda de ocupar militarmente o Sinai, tradicional espaço de confrontação com o grande inimigo de Israel, apoderando-se entretanto de Gaza e do Golfo de Akaba. Esta investida apenas terminaria na margem do Suez, onde os exércitos depararam-se frente a frente à espera de novas ordens.

A mesma viria dois dias depois, a 7 de Junho. Ciente da aliança egípcia-síria, e dos efeitos colaterais que o ataque a um dos mais poderosos Estados da Liga Árabe poderia causar em todo o mundo muçulmano, Israel avança novamente pré-emptivamente contra a Síria com a conquista da Cisjordânia e tomada dos Montes Golan, na fronteira com o espaço de Damasco. O carácter meticuloso, planeamento empregue, escolha de alvos e prazos, e audácia Israelita tiveram uma tal repercussão nos inimigos aliados que lhe valeria o epíteto da mais curta guerra na História. Por conseguinte, a aliança com os norte-americanos finalmente traduzia-se numa impressionante superioridade militar face aos restantes vizinhos numa região de grande hostilidade.
Paralelamente com o desenvolvimento de tecnologia militar, cujos sinais começavam a surgir no meio dos sistemas de informação ocidentais e de leste, a Guerra dos Seis Dias constituiu um irrepetível marco de força e determinação de um povo a garantir a sua subsistência, mesmo que para tal tenha que empregar meios coercivos a título de prevenção.

Não admira portanto que logo no dia 8 de Junho, o Egipto aceitasse o cessar-fogo proposto, enquanto que a Síria seguir-lhe-ia os passos no dia 10. Terminava assim a Guerra dos Dias, uma operação de manual a qualquer historiador e analista militar para os quais se demonstra a inequívoca superioridade de umas forças armadas com recurso a alta-tecnologia e a oportunidade de iniciativa para paralisar, com um número mínimo de baixas, todos os mecanismos de contra-ataque dos inimigos. A título de curiosidade, demonstrando essa vitória, Israel começa a guerra com apenas 20.300 km2 de área sob sua administração, enquanto que depois do dia 10 possui cerca de 102.400 km2, um aumento na ordem das cinco vezes.

Desta guerra resultou ainda a proclamação por parte do Knesset, o Parlamento Israelita, da anexação da parte árabe de Jerusalém, dando por suspendidas todas as recomendações do Conselho de Segurança e Assembleia Geral das Nações Unidas. Contudo, só no dia 22 de Novembro do mesmo ano de 1967 viríamos a observar a emissão de uma Resolução 242 que, entre outros objectivos, procurava persuadir Israel a abandonar os territórios ocupados – todos, na versão Francesa do documento; alguns na versão em Inglês -, assim como a reconhecer o direito de todas as nações vizinhas à paz e estabilidade como povos livres.

Conforme consta no texto em Português, que segue infra, o apelo direcciona-se em relação a todos os territórios ocupados, indiscriminadamente. Eis a versão integral do documento:


Resolução 242 da ONU
Conselho de Segurança das Nações Unidas
Resolução 242, 22 de Novembro de 1967


O Conselho de Segurança,
Expressando as suas contínuas preocupações perante a grave situação no Médio Oriente, salientando a inadmissibilidade da apropriação de território por meio de guerra e a necessidade de trabalhar para uma situação de paz justa e duradoura em que cada Estado desta região possa viver em segurança, salientando ainda, que todos os Estados-Membros, ao aceitarem a Carta das Nações Unidas, assumiram o compromisso de agir de acordo com o Artigo 2º desta Carta,


1. Afirma que o cumprimento dos princípios da Carta requer o estabelecimento de uma paz justa e duradoura no Médio Oriente, incluindo a aplicação de ambos os seguintes princípios:
(i) Retirada das forças militares de Israel dos territórios ocupados no recente conflito;

(ii) Fim de todas as exigências, ou estados de beligerância, e o respeito e o reconhecimento da soberania, integridade territorial e independência política de cada Estado da região e o seu direito a viver em paz dentro das fronteiras seguras e reconhecidas, livres de ameaças ou actos de força.

2. Afirma ainda a necessidade de:

(a) Ser garantida a liberdade de navegação através das vias internacionais existentes na região;

(b) Ser alcançado um entendimento justo sobre o problema dos refugiados;

(c) Ser garantida a inviolabilidade territorial e a independência política de cada Estado da região, através de medidas que incluam o estabelecimento de zonas desmilitarizadas.

3. Requer ao Secretário-Geral que designe um Representante Especial que se desloque ao Médio Oriente, para estabelecer e manter contactos com os Estados interessados e para promover o entendimento e apoiar esforços que permitam alcançar um acordo pacífico e aceite, no âmbito das disposições e dos princípios desta resolução.

4. Requer ao Secretário-Geral que informe o Conselho de Segurança sobre os progressos dos esforços do Representante Especial tão cedo quanto seja possível.

A decisão soviética de cortar relações com as autoridades israelitas depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, veio a provar-se ser um erro geopolítico por parte da URSS – como resultado desta decisão, os soviéticos depararam-se com a impossibilidade de exercer qualquer tipo de influência na região e via-se também excluída de participar nas deliberações acerca de possíveis soluções de paz para o conflito israelo-árabe. Várias causas, destacando-se duas principais, podem ser enumeradas para contextualizar as acções soviéticas em 1967: i) a mais importante deveu-se ao pressuposto de que seria mais relevante exercer influência no mundo árabe do que em Israel. Esta lógica, que consequentemente levou ao investimento soviético no mundo árabe – económico, político e militar – traduziu-se em pouca influência política, como era objectivo da URSS; ii) Moscovo tinha também em mãos um dilema de credibilidade política – dificuldade em restaurar relações com Israel sem que isso se transformasse num sinónimo de mudança na sua política externa.

Sem comentários: