02 fevereiro, 2008

Olhar sobre o Mundo Islâmico Contemporâneo

Um Breve Olhar sobre o Mundo Islâmico Contemporâneo


Análise crítica à obra “O Revivalismo Islâmico” do Prof. Hélder Santos Costa


A análise crítica à obra supra-referida necessita, no meu entender, de uma pequena contextualização inicial sobre toda a temática do Islão, por forma a obter um melhor entendimento. Nela abordarei os fundamentos da doutrina islâmica no mundo contemporâneo, uma breve evolução histórica, as suas clivagens internas, e como estas se manifestam ao longo dos vários países onde existem comunidades islâmicas consideráveis.


Durante muitos séculos, os termos Islão, Allah, Maomé, shari`a ou Alcorão estiveram como que adormecidos nas mentes dos ocidentais. No entanto, nas últimas décadas, despertaram, passando a fazer parte do vocabulário de todo o mundo, mesmo que por vezes de forma errónea e com uma conotação negativa, fruto do crescente fundamentalismo islâmico que ameaça tomar de assalto a doutrina da submissão pela do martírio.
O Islamismo, uma das três religiões monoteístas - tal como o Cristianismo e o Judaísmo -, avança mais do que qualquer outra com maior ênfase em África e na Ásia. Tal êxito deve-se à simplicidade lógica da sua doutrina.
Islão significa “submissão à vontade de Deus”, uma religião de conquista que emergiu no século VII na Península Arábica, baseada nos ensinamentos religiosos do profeta Maomé (Muhammad), e numa escritura sagrada, o Alcorão, que vem funcionado ao longo dos séculos como um código de conduta. O Islão é visto pelos seus crentes como um modo de vida que inclui instruções que se relacionam com todos os aspectos da vida humana.


No Islão existem “cinco pilares”, que funcionam como autênticas obrigações de culto para cumprimento escrupuloso dos seguidores da fé islâmica. Os pilares do Islão são: a Profissão de Fé (Al Shehada), exigindo a confissão legal e sincera da sua fé; a Oração (Al Sadat), que representa a base fundamental da religião, podendo ser classificada em orações obrigatórias, facultativas e super-rogatórias; a Esmola Legal (Al Zakat) possuindo o móbil de purificar aquele que a dá através da vitória sobre o egoísmo, e da satisfação moral de participar na construção de uma sociedade muçulmana mais justa; o Jejum (Al Swam) traduz-se na abstinência completa de ingerir alimentos, beber, ter relações sexuais e fumar no espaço de tempo que decorre entre a alvorada e o pôr-do-sol durante o mês do Ramadão; a Peregrinação (Al Hajj) consiste numa série elaborada de ritos que exigem vários dias para serem cumpridos na mesquita da cidade santa de Meca, onde nasceu o Profeta.


Quero também referir, segundo as palavras do Prof. Hélder Santos Costa, a “Guerra Santa (Al Jihad)” como uma espécie de sexto pilar do Islão. Este é um termo que nos habituámos a ouvir e na maioria das vezes associada a actos de violência. Contudo, a jihad representa um acto de devoção que abre as portas do Paraíso, subdividindo-se doutrinalmente em quatro variantes, a saber: a Jihad Ofensiva; a Jihad Defensiva; a Jihad Menor; e a Jihad Maior. De forma sucinta, e se possível esclarecedora, a Jihad Ofensiva consiste no ataque ao território dos infiéis, o “Dar-al-Kufr” de forma a conquistá-lo e submeter a sua população ao Islão. Quanto à Jihad Defensiva, esta surgirá quando o território do “Dar-al-Islam” (Mundo do Islão) é objecto de ataques provenientes do “Dar-al-Harb”, ou seja, dos infiéis ou não crentes. Nesta variante, todos os muçulmanos devem participar com armas ou donativos, orações, etc. Relativamente à Jihad Maior, esta representa a luta interna de todos os muçulmanos no sentido de banir do seu espírito sentimentos como a avareza, a vingança, a traição ou a mentira. Já a Jihad Menor representa a Jihad Violenta, a luta contra agressores, e que deverá ser usada para promover e proteger o Islão

O Dar-al-Islam estende-se predominantemente de Marrocos às Filipinas, e está também presente nas comunidades muçulmanas dos países ocidentais, possuindo uma demografia crescente no mundo contemporâneo, ultrapassando os mil milhões de crentes.


Como já referi, muitas das coisas que a grande maioria das pessoas associa ao Islamismo, consequência do desconhecimento e superficialidade das informações divulgadas pelos media internacionais, têm origem na prática shiita. O shiismo e o sunismo constituem as principais correntes do Islão. O sunismo é, de longe, a mais popular, contando com cerca de 90% dos crentes. Não obstantes as suas semelhanças, apresentam dissensões fundamentais na construção do seu entendimento sobre a evolução da religião. A diferença entre elas não reside em fundamentos doutrinais, mas antes em circunstâncias históricas relativas à sucessão de Maomé.


Os sunitas aceitam como sucessores do Profeta os Quatro Califas Bem Guiados – Abu Bakr, Omar, Othman e Ali. Já os shiitas não encaram com bons olhos os primeiros três Califas, uma vez que estes, segundo a óptica shiita, ascenderam ao Califado em detrimento de Ali, primo e genro do Profeta, e por esta condição como o mais digno sucessor. Ali foi assassinado em 661, tal como os seus dois filhos, Hassan e Hussein. A forma como este último morreu, na Batalha de Karbala (680), no actual Iraque, constitui o clímax da história combatente do shiismo.


De forma sucinta, a Batalha de Karbala (680), junto ao rio Eufrates, consistiu num combate entre Hussein e os seus 72 companheiros contra o exército de milhares de homens de Yazid I. Após resistirem por alguns dias ao exército sunita, Hussein e os seus companheiros acabaram por ser derrotados e mortos. Deste massacre, apenas mulheres e crianças escaparam. Esta batalha afigura-se como o melhor exemplo da filosofia combatente dos shiitas, “antes a morte que a rendição”. O facto de Hussein se ter martirizado foi crucial para os shiitas, que acreditam que, a começar com o próprio Ali, todos, à excepção de um dos Doze Imãs (isto é, Ali e os seus descendentes directos), foram martirizados. A necessidade de resistir a todos os obstáculos por uma questão de princípios, a disponibilidade para o martírio, a paixão total, a não preocupação com a morte e a aceitação da tragédia são aspectos familiares aos shiitas. Os estudiosos costumam classificá-los como o “Paradigma de Karbala” (Fischer 1980).


O Irão, desde a sua Revolução Islâmica de 1979, apresenta aspectos deste paradigma que ajudam a explicar a sua política externa, quer no âmbito regional quer mundial. Aliás, esta revolução serviu em grande parte para o despertar da letargia e catapultar o Islão Revolucionário para o jogo de poderes que não só afectam toda a região do Médio Oriente, como ainda se repercutem na forma como o Ocidente interpreta e se relaciona com o mundo islâmico.

Apesar das inúmeras diferenças que separam ocidentais de muçulmanos, a heterogeneidade é-lhes comum, ou seja, as visões que uns têm dos outros primam pela acusação de homogeneidade de parte a parte. No entanto, tanto muçulmanos como ocidentais constituem-se como povos crentes com uma grande carga de heterogeneidade, possuem tradições, costumes, línguas, condutas, modos de professar a sua fé, em tudo diferentes. E se com a descrição acima feita foi possível evidenciar algumas diferenças no mundo islâmico, o mesmo ocorre para parte ocidental.

As principais figuras do Revivalismo Islâmico pugnaram pela defesa dos valores do Islão tendo, claro, em conta os seus contextos histórico, económico e político nos quais se viram envolvidos.


O Revivalismo Islâmico é, portanto, diversificado e tal facto deve-se, segundo as palavras do Prof. Hélder Santos Costa, a três factores. O primeiro incide no facto de existirem sete categorias de Revivalistas Islâmicos, a saber: Fundamentalistas, Activistas Radicais, Tradicionalistas, Modernistas, Reformistas, Pragmáticos e Nacionalistas. O segundo factor reside no facto de a actualidade ser dominada pelos nacionalismos, ou seja, da satisfação dos interesses nacionais, sendo que isto provoca nos líderes muçulmanos o abandono de um sentimento de um Mundo Muçulmano unificado (Pan-Arabismo). Por último, o terceiro factor traduz-se pela ideia dos vários líderes muçulmanos possuírem visões do mundo e da vida diferenciadas, daí que se uns, pertencentes à ala mais radical, optam por hostilizar o mundo ocidental personificado pelos EUA, como o já falecido ayatollah Ruhollah Khomeini, outros têm revelado as suas preferências pró-ocidentais como o Rei Abdallah da Arábia Saudita. Por fim, ainda outros líderes se notabilizam por celebrar alianças pontuais com países ocidentais com o intuito de satisfazer interesses nacionais ou conjunturais específicos, como o antigo Presidente egípcio Muhammad Anwar Al Sadat.

Sendo o tema da obra em análise o Revivalismo Islâmico, e tendo em consideração a categorização dos revivalistas elaborada pelo autor, farei aqui uma sucinta explanação sobre as várias categorias e respectivos exemplos de personalidades que melhor personificam as mesmas.

2 comentários:

Anónimo disse...

adolei aaa pesquisa continuem com esse talendo que vcs tem....

Anónimo disse...

ADOREI A PESQUISAR AQUI QUERIA QUE VCS PESQUISAGENS ASSIM E COLOCA SEM NA INTERNET....